Helena Simões - Café com Gelo

27-02-2022

Helena Simões. 21 anos. Natural de Viana do Castelo. Estudante de Enfermagem. Pianista. Autora do livro Café com Gelo.

Reservada. Empenhada. Independente.

Exprime o que se sente em forma de música e poesia. Hoje vamos conhecer melhor a Helena.

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[Daniela]- "Eu corro e anseio parar. Eu escrevo e anseio cantar. Estou sentada e anseio dançar. Estou calada e anseio gritar". É isto que te descreve? O anseio de viver?

[Helena]- Sim, acho que esses versos transcrevem aquilo que toda a minha vida pensei. Sempre que alcançava algo, queria logo alcançar a seguinte. Nunca fiquei contente com o que já tinha, quero sempre mais e mais.

[Daniela]- De onde surgiu a ideia de escreveres este livro e porquê poesia?

[Helena]- Desde pequenina que andava com um caderno comigo e desde cedo que ia escrevendo frases e poemas. Comecei por ler Florbela Espanca, o livro O Dominó Preto, que também foi uma inspiração para mim. Recentemente, tomei conhecimento de um concurso de escrita na internet e pensei que seria uma boa oportunidade. Decidi concorrer, sem sequer dizer aos meus pais, pensando sempre que não daria em nada. Entretanto fui selecionada e decidi avançar.

[Daniela]- Sabemos que um dos teus hobbies é tocar piano. A música e a poesia complementam-se?

[Helena]- Sim, têm muita ligação. Quando toco piano expresso-me da mesma forma que o faço quando escrevo. Muitas vezes não me consigo expressar a falar e estas são as formas pelas quais procuro fazer-me entender.

[Daniela]- O livro inicia-se com um poema que diz: "Mas tinha pressa de beber o café, Como tenho pressa em me apaixonar". O amor é a tua principal inspiração? Ou é a falta dele?

[Helena]- Acho que é aquela busca obsessiva de encontrar o amor. Desde pequena que vejo romances, que vejo toda a gente, à minha volta, a apaixonar-se e surge aquela ideia de que se não me apaixonar o mais rápido possível estou a perder esses momentos felizes com alguém. Foi assim que surgiu essa urgência em me apaixonar. Atualmente, já não penso dessa forma. Já me consigo imaginar a ser feliz sem alguém.

[Daniela]- Ao longo da leitura do teu livro senti, em alguns momentos, revolta nas tuas palavras quando, por exemplo, escreves: "Aprendi qual é o meu lugar, E a todos agradar". De onde vem este tipo de pensamentos?

[Helena]- Desde criança que aprendemos que se nos comportarmos bem teremos uma recompensa. Sempre fui boa aluna, sossegada, com boas notas. Na Vela sempre tive bons resultados. Isso fez sempre com que fosse recompensada. Com o passar dos anos fui-me calando mesmo quando tinha opinião para dar, tentando sempre agradar ao outro. Quando entrei na faculdade e conheci pessoas como tu, pessoas que dizem aquilo que pensam e lutam pelos seus objetivos sem esperar agradar os outros, comecei a sair da carapaça e sinto que, apesar de ainda ter um longo percurso pela frente, já consigo expressar a minha opinião sem tanto receio.

[Daniela]- Fico lisonjeada com o teu elogio. A Enfermagem continua a ser aquilo que idealizavas quando a escolheste?

[Helena]- É mais. Eu pensei que fosse: conhecer uma pessoa, conhecer o seu problema e tratá-la. Mas de repente dou por mim a sofrer por alguém que nunca vi na minha vida, se calhar mais do que por pessoas que conheço há anos. Às vezes, torna-se muito difícil chegar a casa e pensar naquilo que vivemos e, muitas vezes, sentirmo-nos impotentes, daí também escrever sobre isso.

[Daniela]- Podemos ler no teu livro alguns poemas sobre o que sentes nesses momentos, nomeadamente: "Tanto é o luto que o hospital é preto". A Enfermagem inspira-te?

[Helena]- Sim, sem dúvida. Nesse poema em questão o que quero passar é que há a ideia de que o hospital é branco, realmente as paredes são brancas, as fardas são brancas, os utentes vestem-se de branco, mas muitas vezes tudo o que vemos é o preto do luto e da dor. Tudo isto me inspira apesar de doer, mas também é graças a isto que tento ser melhor todos os dias e dar sempre mais um pouco de mim aos outros, nem que seja só a minha mão, mesmo que esta não cure a dor do outro. Acho que a Enfermagem é mesmo isso, é estar lá para as pessoas.

[Daniela]- Se tivesses de escolher entre a arte do cuidar e a arte da escrita, qual escolherias? Só vale escolher uma (risos).

[Helena]- Acho que a arte do cuidar me completa mais. A arte da escrita complementa, é a forma de eu expressar aquilo que eu sinto quando cuido ou quando amo, ou até quando choro...

[Daniela]- E se tivesses de escolher apenas um dos teus poemas, qual seria?

[Helena]- Aquele que escrevi para a minha mãe. Foi dos primeiros que eu escrevi, ainda em criança. Escrevi-o quando na escola me perguntaram qual era o meu cheiro preferido.

[Daniela]- Confesso que esse poema é também um dos meus preferidos, principalmente quando escreves: "O meu lar tem cabelos compridos, Um olhar querido e um sorriso abatido. O coração cansado e ombros descaídos...". Acho que as nossas mães são isto mesmo. E planos para o futuro?

[Helena]- Gostava de escrever mais um livro, um em que dê ainda mais de mim, algo mais planeado, pois este acabou por ser uma surpresa e muito momentâneo, se bem que isso foi bom, pois tornou-o ainda mais "transparente".

[Daniela]- Agora a pergunta da praxe: Se o mundo acabasse amanhã o que farias hoje?

[Helena]- Sem dúvida que viajaria! E levaria comigo as pessoas que eu mais gosto para aproveitar bem o último dia, mas não lhes diria que o mundo ia acabar.

[Daniela]- Obrigada, Lena!

[Helena]- Muito obrigada eu!

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Conheci a Helena no primeiro ano da Licenciatura de Enfermagem e desde o primeiro momento fiquei com esta impressão dela: é simplesmente livre.

Obrigada, Helena, por também seres uma inspiração e continua assim, linda, leve e solta!

Podem obter o livro em: www.poesiafaclube.com

Daniela Mendes