Quarentena, tão agridoce.

28-03-2020

Acabaste com a liberdade, mas trouxeste o tempo que queríamos para vivê-la. É suposto agradecer ou sobreviver?

Às vezes costumava discutir política com a minha família, e como em todas havia sempre o discordar de ideias, muitas vezes ouvi a frase "não sabes o que é viver sem a liberdade que tens hoje", quando ouvia pensava que eles estavam enganados, sabia bem qual era a importância da liberdade, hoje questiono: será que sabia?

Estou no meu décimo oitavo dia de quarentena devido à conhecida e falada Pandemia Mundial Covid-19, não posso sair à rua, não posso estar com os meus familiares e amigos, não posso estar em estágio, nem em aulas e descobri que também não estou de férias!

Há dias em que acordo e estou bem, outros que estou triste, cansada e com raiva, mas depois paro para pensar, e chego à conclusão que estar de quarentena está a dar-me uma grande lição de vida, pois fez-me perceber que uma tela não substitui um abraço, que uma varanda não substitui um campo, que o toque de um telemóvel não substitui o toque de uma campainha, que uma videoconferência não substitui uma mesa cheia de pessoas à sua volta, que os motores de busca não deixam sentir cheiros, que fazer bolos não tem a mesma magia se tiver de os comer sozinha, que os senhores que apanham lixo e os que vendem a nossa comida são tão importantes como aqueles que nos salvam a vida todos os dias, que o simples ato de substituir os óculos de sol por uma máscara de proteção doí e que a nossa liberdade vale ouro.

Percebi isto, e muitas mais coisas, mas acima de tudo percebi que o Mundo merece um pedido de desculpas, pois agora que paramos a nossa vida normal os animais voltaram a sair das tocas, as águas correm claras e a poluição diminuiu, o Mundo hoje está melhor e eu percebi o quão ingrata estava a ser, pois afinal o que somos nós sem ele? Nada, simplesmente não existimos, talvez esta seja a pausa que ele precisava para continuar mais forte e fazer-nos perceber que sem ele não há nada.

O que surge todos os dias na minha cabeça é que quando isto acabar, quando tudo melhorar, quando as pessoas voltarem a sorrir e a vida continuar vou fazer de tudo para que ela ande mais devagar, não vou deixa-la fugir de mim porque ela é tão importante... Vou querer sair de casa e ir abraçar quem mais amo e que raramente abraçava, vou querer sentir o sol e o vento na minha cara enquanto corro em direção ao mar, vou querer fazer uma vénia a todos os profissionais de saúde que mais uma vez me fizeram perceber que escolhi a profissão certa, vou querer sorrir para o trabalhador do hipermercado pois às vezes esse sorriso falha com a pressa que a vida leva, vou querer olhar nos olhos de alguém e dizer "bom dia", vou querer sorrir, e claro, vou querer agradecer-te mais Mundo.

Infelizmente foi preciso tudo isto acontecer para perceber que não somos nada sem a liberdade, e o tempo que antes não tínhamos não estamos a puder vivê-lo como queríamos, mas uma coisa é certa: quando tudo ficar bem eu não vou gastá-lo com coisas desnecessárias, eu vou gastá-lo com amor.

Daniela Mendes