Uma Pandemia.

05-04-2020

Uma pandemia. Demorou a o ser considerada, mas aqui estamos, em 2020, a tentar travar uma batalha, não contra outras pessoas, mas contra nós próprios.

Sim, mais um texto sobre a Covid-19, mais um a acrescentar à imensa lista de textos que já leste sobre este tema (ou devias).

"Raios partam a Covid-19, estou farto de estar em casa."; "A Covid-19 não veio à toa, foi Deus, foi Deus!"; "A Covid-19 até é bom, uniu as pessoas, há tempo agora!". Isto são 3 tipos de pessoas face a esta situação. O que te peço neste momento é que vás buscar algo para comer (mas algo que engorde, só para acrescentar mais umas gramas aos 3Kg que já engordaste), que te coloques numa posição confortável, e que leias o resto do texto, pois vou falar de ti... ou não... Não sei, mas lê! Afinal, tens tempo!

Começo com as teorias da conspiração! Com a chegada da Covid-19, o ar tornou-se mais limpo, os animas saíram das tocas, as águas estão mais transparentes... sim é verdade, ótimo! Mas por favor, vamos despertar um pouco. Parem de dizer que os chineses fizeram isto de propósito ou que foi um ataque dos EUA, ou que foi Deus. Sejamos simples e práticos, digamos que o vírus simplesmente sofreu uma mutação. Claro que o ambiente melhorou e agradece, mas por favor, não estamos a falar do "Dilúvio".

A frase que mais me tem deixado a pensar é "Agora, temos mais tempo"... Não sei se os vossos dias andam diferentes mas o meu continua com 24 horas, por isso, não, não percebo o sentido desta frase, acho que fazia mais sentido se fosse: "Agora, apesar do tempo ser exatamente igual aos outros dias, eu sei como posso tirar o máximo proveito dele", acho que assim seria mais razoável, concordam?

Se não te identificas com nenhum dos exemplos acima não fiques aflito ou a considerar-te o Super-Homem da Covid-19, eu tenho uma situação que decerto irás te identificar com alguma personagem.

No outro dia fui ao supermercado, entrei sem nenhum problema, sem máscara, sem luvas, tinha apenas no bolso a carteira e um frasquinho de álcool (sim, não sou burro, este estava preso às calças, aquilo vale mais do que uma nota de 50€). Deambulei entre os corredores do supermercado e num lado tinha as conservas, a comida e as bebidas, do outro, bem, do outro tinha prateleiras no chão, tijoleira partida e algumas marcas de guerra na mesma, não demorei muito até perceber que se tratava da secção dos produtos de higiene (eu aposto com vocês que a cura está no papel higiénico!). Continuei o meu percurso concentrado em realizar todas as minhas compras mensais de forma rápida e eficaz para evitar o máximo contato com o exterior (uma atitude deveras inteligente da minha parte, eu sei), porém estava com uma ligeira alergia devido à época em questão, de repente, e porque sou humano, deu-me uma vontade súbita de espirrar e "atchim". Fez-se silêncio em todo o supermercado, olhei à volta e todos olhavam para mim, parecia aquela cena de suspense que vemos na Casa de Papel, mas ali eu não tinha o Professor para me salvar daqueles olhares reprovadores. Todas as pessoas se tinham desviado cerca de dez metros de mim (dois chegava), a forma como me olhavam fez-me acreditar por breves instantes que me tinha transformado num rolo de papel higiénico (personagem principal nesta pandemia). Por momentos temi que aquele canal de TV (aquele que está sempre em cima do acontecimento, seja ele verdadeiro ou não) já estivesse lá fora à minha espera para me apontar como um caso suspeito. Não me lembro de ser tão rápido a escolher as bolachas, acabei as compras num instante e fui-me embora. Viva à minha alergia ao pólen. Viva à ignorância das pessoas.

Covid-19 e as pessoas. Qual és tu? A que vai para a varanda tocar algum instrumento e animar a malta? A que comprou um telemóvel à nem um mês e já tem a bateria viciada? A que antes da Covid-19 dizia que as redes sociais não prestavam, mas agora é um seguidor assíduo das mesmas? Ah, não me digas que és aquela pessoa que pensa que o Coronavírus não te atinge, o tal Super-Homem da Covid-19! Bem, não sei em que perfil te enquadras ou até se te enquadras em algum, mas para finalizar tenho um pedido a fazer-te, e não, não vou dizer para ficares em casa ou lavares as mãos, não, nada disso, vou antes vergar pelo lado mais cómico (ou não) - sabes aquele funil que metes no pescoço do teu cão quando não queres que ele se coce? Pega nele, e desta vez mete no teu pescoço e evita o maior problema de todos, ires com as mãos à cara.

Fica em casa e respeita-te a ti e aos outros, não só da Covid-19 mas também da outra Pandemia que vivemos, a da ignorância.

Lucas Correia